Quando mudei para a Rua Roger de Flor, no Fort Pienc, bairro do Eixample Derecho, senti que estava mudando para um bairro diferente de todos que eu já tinha vivido em Barcelona. Isso aconteceu em janeiro de 2016. E em poucos dias eu já percebi que eu tinha mudado para um bairro que estava em um momento de transformação. Um bairro com muitos restaurantes, lojas e moradores asiáticos, mas também um bairro que estava começando um processo de gentrificação, em outras palavras, estava ficando “hipster”, “cool”, descolado e tantos outros adjetivos que podemos colocar aqui. Uma mudança que tem o seu lado positivo, mas também um lado negativo. Alguns restaurantes típicos fecharam para dar lugar a outros mais caros, “trendy”. Mas, o mais interessante, é que os asiáticos reagiram e começaram a abrir restaurantes “cool” também.
O bairro começou a mudar desde que a Prefeitura de Barcelona fez um reurbanização do Passeig Sant Joan, mudando completamente a avenida. O espaço para carros reduziu para metade e os pedestres ganharam mais espaço. As calçadas do Passeig Sant Joan praticamente dobraram de tamanho, agora com mais verde, árvores, playgrounds de madeira para crianças e mesas ao ar livre. Na parte central da avenida, uma nova ciclovia, também cercada de verde, que termina no Arco do Triunfo, um final literalmente triunfante. Em 2021, em pesquisa realizada pela Revista Time Out Internacional, o Passeig Sant aparece como a segunda avenida melhor para viver no mundo, atrás apenas da Smith Street, em Melbourne, Austrália.
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Claro que esse novo cenário começou a atrair novos empreendedores da gastronomia, moda e afins. E os tradicionais restaurantes, salões de manicure e lojas asiáticas começaram a conviver com novas vitrines, cafés e sabores cosmopolitas. O interessante é que essa mudança atraiu novos asiáticos, mais modernos e sofisticados, que transformaram a Chinatown de Barcelona em uma “Chinatown Hipster.” Nem preciso dizer que eu me identiquei com a cara do bairro. Primeiro, porque tenho um espírito cosmopolita. Segundo, porque tenho os olhos puxadinhos, como não iria me identificar?
Comecei a fazer uma pesquisa de tendências pelo bairro que eu chamo carinhosamente de “Chinatown Hipster” desde então. Essa pesquisa começou oficialmente em 2019, quando propus uma experiência turística para o Airbnb com esse nome. A experiência foi aprovada e eles adoraram a ideia. Mas infelizmente veio a pandemia e eu tive que dar uma pausa no projeto. Algumas lojas fecharam, outras surgiram… O importante é que a vida segue pulsante por aqui. Então vamos lá, imagine que você está aqui comigo e vamos de passeio, uma pesquisa de coolhunting, pela Chinatown Hipster de Barcelona: nosso intinerário começa na Plaza Tetuan e vamos descer o Passeig Sant Joan até o Arco do Triunfo, entrando em algumas ruas perpendiculares.
Principais pontos da Chinatown Hipster
Primeira parada: Takumi Tonkotsu Ramen, Gran Via de Les Corts Catalanes, 704, na Plaza Tetuan. Um restaurante super colorido, com aquelas lanternas típicas japonesas penduradas e cartazes publicitários nas paredes. O cardápio tem opções diferentes, mas o prato principal é o ramen, tradicional sopa japonesa. Entre as cores e informações está um pequeno cartaz que conta a história de como o Takumi Tonkotsu Ramen foi criado. Os pequenos detalhes e os sabores de cada prato fazem deste lugar um excelente ponto para começar o nosso tour.
Segunda parada: Q Tea, Passeig Sant Joan, 44. Uma loja de chás, sobremesas e doces de Hong Kong com sabores e nomes muito interessantes. O cardápio de chás se divide em: Chás Originais, Chás de Leite, Chás de Frutas, Chás de influencers Populares. Entre os chás de frutas, me chamou a atenção o “Energético de Abacate”. E entre os Influencers, o chá “Amor Amargo com Álcool”, que é de limão, toranja e licor. A loja tem uma decoração estilo teenager, com flamingos pinks em prateleiras, pufs e paredes brancas.
Terceira parada: Landscape, Calle Ausias Màrc, 53. Uma loja muito elegante que oferece serviços de limpeza, consertos e pintura de artigos de couros (sapatos, bolsas, cintos, etc). A decoração é linda com várias máquinas de costurar antigas que eu fiz questão de fotografar e ainda fui fotografada pela lojista que me recebeu super bem.
Quarta parada: Lady Dumpling, na rua Roger de Flor esquina com Ali Bei. Antes era o Gyosas Bar, um restaurante só de gyosas. Depois da pandemia passou por uma reforma e agora é o segundo restaurante Lady Dumpling em Barcelona. O primeiro fica na Calle Escudelllers, no bairro Gótico. Um cardápio mais variado, com mais espaço entre as mesas e delivery para toda a cidade.
Quinta parada: Restaurante Canton Food. Com pinturas na parede que recordam os costumes chineses, este é um dos poucos restaurantes cantoneses de Barcelona. Cantonês é um dialeto do chinês Yue, o idioma oficial de Hong Kong e Macau. Mas não se preocupe, o cardápio está em espanhol e inglês. A cantonesa é uma das oito principais tipos de comida chinesa. Para fazer uma comparação, a diferença entre a comida chinesa e a cantonesa é como a diferença entre a comida européia e a italiana. Melhor você experimentar.
Sexta parada: Yang Kuang Supermercado Asiático, Passeig Sant Joan, 12/14. Este é um clássico e vai ficar para sempre. O melhor e mais completo supermercado asiático de Barcelona está aqui. Prepare-se para encontrar tudo o que você procura, mesmo que você não entenda o que está escrito nas embalagens. Todos os molhos possíveis, noodles, bebidas, comidas, pratos e utensílios de cozinha, entre para ficar um bom tempo. Aqui compramos o chá chinês que vamos tomar no final desse texto.
Sétima parada: o Arco do Triunfo. Como não? É tão bonito ou mais que o Arco do Triunfo de Paris (que não me leiam os franceses…). Localizado entre a Avenida Lluís Companys, a Avenida Sant Joan e a Ronda de San Pere, foi projectado pelo arquitecto José Vilaseca como entrada principal da Exposição Universal de Barcelona em 1888. A decoração escultórica foi realizada por Josep Reynés, Josep Llimona, Antoni Vilanova, Torquat Tasso, Manuel Fuxá e Pere Carbonell. Registrado como Bem Cultural de Interesse Local no Inventário do Patrimônio Cultural Catalão. E o que é mais importante: ao contrário de outros arcos triunfais de natureza predominantemente militar, o Arco do Triunfo de Barcelona tem um componente civil, caracterizado pelo progresso artístico, científico e económico.
Última parada: minha casa
Oitava e última parada: um chá chinês na varanda do apartamento onde eu moro para descansar a vista olhando para o skyline da cidade. O apartamento é minúsculo, mas tem uma vista 180 graus de Barcelona que compensa tudo. À esquerda, a Igreja Sagrada Família, um dos principais simbolos arquitetônicos da cidade. De frente, a Torre Glòries, ícone da arquitetura mais moderna da cidade. À direita, a Torre Mapfre e o Hotel Arts, as “torres gêmeas” de Barcelona. E, apertando um pouco os olhinhos (pra ficar parecendo ainda mais uma asiática), dá pra ver um pedacinho do azul do mar Mediterrâneo. Essa vista é a minha terapia de cada dia. E aqui terminamos o nosso passeio pela Chinatown Hipster de Barcelona. Até breve!
再见!Zàijiàn!
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